ALFONSÍN, MENEM E AS RELAÇÕES CÍVICO-MILITARES
A construção do controle sobre as Forças Armadas na Argentina democrática (1983-1995)
Marcelo Fabián Saín
Não se me oculta que muitos têm tido e têm a opinião de que as coisas do mundo
estão governadas pela fortuna e por Deus até tal ponto que os homens, a pesar de
toda sua prudência, não podem corrigir seu rumo nem opor-lhes remédio algum.
Por esta razão, poderiam pensar que não apenas não há motivo para esforçar-se
demais nas coisas, mas também para deixar que as governe o acaso [...]. Contudo,
para que nossa livre vontade não fique anulada, penso que pode ser verdade que
a fortuna seja árbitro da metade das nossas ações, mas a outra metade, ou quase,
nos é deixada, inclusive, por ela, sob nosso controle. Eu costumo compará-la com uns
desses rios torrenciais que, quando se enfurecem, inundam os campos, derrubam
árvores e prédios, tiram terreno desta parte e o botam naquela outra; os homens fogem dele,
todos cedem a seu ímpeto sem poder oferecer-lhe resistência alguma. E, embora sua
natureza seja esta, isto não impede, no entanto, que os homens, no momento em
que os tempos ficam tranqüilos, não possam tomar precauções mediante diques e
quebra-mares de maneira que em cheias posteriores, ou discorreriam por um canal ou
seu ímpeto já não seria nem tão selvagem nem tão prejudicial. A mesma coisa acontece
com a fortuna: ela mostra seu poder quando não tem uma virtude organizada e
preparada para fazer-lhe frente e, por isso, vira seus ímpetos para lá, onde sabe que
não se tem construído os quebra-mares e os diques para contê-los.
Nicolás MAQUIAVELO, O Príncipe. 1513